Se um dia alguém me dissesse que iria ser artesã e executar
trabalhos manuais que encantariam as pessoas, com certeza eu diria que a essa
pessoa estava louca !!
Jamais iria imaginar que teria o dom e a capacidade de
construir algo artesanal.
Por outro lado, buscando na história da minha vida eu sempre
tive contato com o artesanato, isso através da minha avó. Adorava ir passar dias na casa dela, assim que chegavam as férias me mudava de
“mala e cuia” para casa de “minha avó Lica”. No quarto dela haviam caixas e mais caixas de
matérias para artesanato das mais variadas técnicas. Sempre me perguntava se
ela realmente precisava mesmo de tanta coisa.
Achava tudo uma “bagunça organizada”, mas não me prendia muito nos detalhes daquele mundo paralelo, afinal
o que importava pra mim era poder desfrutar dos momentos deliciosos que passava
lá.
Todos os finais de ano, a minha avó promovia um bazar em
casa. Juntava varias peças da produção
do ano, organizava cuidadosamente na estante da sala para que ficassem atrativas,
cada uma devidamente etiquetada com os seus preços. Com isso, todas as visitas que chegavam poderiam
admirar os artesanatos e compra-los. Como minha avó era muito conhecida e
querida no bairro, ela conseguia vender muita coisa.
E assim fui crescendo nesse ambiente de artes, coisas
gostosas e boas lembranças...
O tempo passou... me formei em Ciências da Computação e hoje
divido a minha rotina entre o meu
trabalho CLT e minha vida de artesã.
Sou proprietária da empresa Art Di Cris e desenvolvo projetos
em porcelana fria.
Mas onde tudo isso começou? Como me tornei artesã ?
Na verdade eu descobri
esse dom em um momento de muita dor e tristeza. Há alguns anos atrás o meu pai foi
diagnosticado com câncer e foi o momento em que o meu “mundo caiu”. Filha única
até os 10 anos e a queridinha do papai, ví passar diante dos meus olhos a
possibilidade de ficar sem ele. Temi ver
o amor da minha vida partir por causa de uma doença tão cruel e
implacável.
Logo em seguida a noticia, foram dias muito difíceis pra
mim, tinha várias crises de choro ao longo do dia, larguei algumas formações que estava fazendo
na época , me ví começando a entrar em buraco negro e quase entrei em
depressão.
Então um dia em minhas orações eu pedi a Deus que me desse
forças para apoiar e cuidar do meu pai naquele momento tão difícil. Eu não
podia deixar ele perceber o meu sofrimento, pois queria passar confiança, força
e otimismo. Então surgiu a ideia de procurar algum curso em que eu pudesse
preencher a minha mente e tirar o foco daquele sofrimento, eu sempre gostei de
estudar e aprender coisas novas.
Pensei em fazer artesanato e lembrei da minha avó. Queria
escolher algo que me desse prazer. Então achei uma loja aqui em Salvador que
ministrava aulas de Biscuit, me matriculei
e fui fazer o curso em uma bela manhã de sábado. Foi algo surreal !!!! Quando
acabou a aula sabia que era exatamente aquilo que queria fazer o resto da minha
vida. Sai da loja com todo o material pra começar a brincadeira.
E assim foi a o longo do tratamento do meu pai, cuidava dele
e fazia os meus biscuits. Aquilo tirava o foco do meu sofrimento, me reportava
para outro lugar onde tudo era somente alegria, eu conseguia me desconectar de
mim mesma enquanto estava modelando aquela massinha e não tinha mais tempo de
ficar focada no meu sofrimento.
Cheguei a fazer cursos de outras técnicas, mas acabei me
dedicando somente porcelana fria.
A medida que fui fazendo as peças e divulgando foram surgindo pedidos e as encomendas foram
aumentando. Em seguida abri uma loja virtual e um blog, onde ia divulgando os meus trabalhos e em paralelo
a isso eu cuidava do meu pai. Até que três anos depois ele faleceu e encontrei naquele “hobby” forças
para superar toda aquela tristeza e todas as situações que vem acompanhada de
um momento de luto.
Um ano depois marquei o meu casamento. Foi uma cerimônia simples, sem festa, mas
extremamente linda. E mais uma vez o artesanato entrou em cena. Paguei a
maioria das coisas (decoração, aluguel de vestido, bolo, lembranças ) com o
dinheiro das minhas encomendas.
Mudei para uma casa
maior onde poderia ter um espaço separado somente para fazer as minhas artes.
Vi também que o meu hobby poderia ser uma fonte de renda extra e a partir disso
comecei a me posicionar como uma profissional do artesanato. Fui buscar cursos
sobre empreendedorismo voltado para artesã,
estudar como funciona a contabilidade de um negócio artesanal, aprender
a organizar o meu tempo para me tornar mais produtiva e hoje sigo nessa
caminhada constante de aprendizado todos os dias.
Qual a minha dica para quem quer viver de artesanato? Foco,
organização e determinação.
Nada é fácil, é preciso buscar conhecimento SEMPRE, nunca
sabemos tudo e a todo o momento haverão coisas novas para aprender. O mais
importante é se colocar na posição de quem quer absorver conhecimento, estar aberto as mudanças, se desapegar das coisas que não agregam mais
valor e não contribuem para o seu objetivo.
Hoje a minha rotina é divida entre o meu trabalho CLT e o meu
ateliê de artesanato, ou seja, todos os dias eu tenho uma jornada dupla de
trabalho, por isso eu preciso ser duas vezes mais organizada, duas vezes mais
focada naquilo que faço. Mas todas as
dificuldades do dia a dia de quem resolve ter um empreendimento artesanal é
compensada quando o cliente ama um produto feito por você e quando imprimimos amor no nosso trabalho.
Cada peça que fazemos vai um pouco do que somos, do que
acreditamos e muito amor. E isso é o diferencial de cada um que é captado
quando o cliente recebe uma encomenda.
Espero que o meu depoimento possa inspirar um pouco o
coração de quem irá lê-lo
Minhas presenças digitais:
Fan Page: https://www.facebook.com/ArtDiCris